queirós
, eça de
(1845 -1900)
De Eça escritor, romancista inovador, neologista, tudo se disse. De Eça jornalista, cronista ubÃquo, repórter, pouco se sabe. Aos 21 anos, grande aventura: lançar um jornal – o Distrito de Évora
Com vários papeis: director, cronista, correspondente, folhetinista, analista polÃtico, crÃtico de artes.
O jornal de Évora foi o seu "laboratório de estilo". Durante sete meses intensos, entre Janeiro e Julho de 1867.
Depois da experiência em Évora, Eça nunca mais deixou a imprensa. Foi um jornalista crÃtico, no olhar satÃrico com que via o mundo
e na análise que fazia da nova profissão de jornalista Eça de Queirós tinha uma noção muito clara e ainda actual do que deve ser o jornalismo:
"É grande dever do jornalismo, fazer conhecer o estado das cousas públicas,
ensinar ao povo os seus direitos e as garantias da sua segurança,
estar atento às atitudes que toma a politica estrangeira,
protestar com justa violência contra os actos culposos, frouxos, ou nocivos,
velar pelo poder interior da pátria, pela grandeza moral, intelectual e material em presença das outras nações, pelo progresso que fazem os espÃritos, pela conservação da justiça, pelo respeito do direito, da famÃlia, do trabalho, pelo melhoramento das classes infelizes". E tinha este desejo forte: "Que o jornalismo possa sempre dizer: comigo estão a razão e a justiça!". Depois de Évora, entra n'"As Farpas", com Ramalho Ortigão.
Foram 16 meses de ferroadas irónicas, a "farpear até à morte a alimária pesada e temerosa". Relação privilegiada com o Brasil, através da "Gazeta de NotÃcias",
da qual se dizia "hóspede quase permanente", Nas suas crónicas, está o jornalista atento à actualidade,
ao pitoresco e aos grandes acontecimentos internacionais do seu tempo. Eça tem o sentido agudo da oportunidade da crÃtica, da análise ou da simples referência à forma como os jornais estrangeiros olham a realidade portuguesa, interliga os acontecimentos e junta uma pitada de humor e ironia à seta afiada do comentário. Em sÃntese, era nas últimas décadas do séc. XIX um verdadeiro correspondente Eça colaborou numa vintena de jornais e revistas, em 35 anos de actividade jornalÃstico-literária. Manteve sempre a veia de um jornalista crÃtico. CrÃtico no duplo sentido:
- na forma, mordaz, satÃrica e impenitente, como farpeia a sociedade da época;
- e no modo, sarcástico e contumaz, como alude à prática jornalÃstica.