Sampaio
, António Rodrigues
(1806 -1882)
Nasceu em Esposende, abdicou da carreira eclesiástica, começou a fazer jornalismo no Porto, foi preso pelas suas ideias liberais, combateu ditaduras em Lisboa, e transformou-se num dos mais fortes jornalistas polÃticos de todos os tempos, em Portugal.
O seu exemplo, com a Revolução de Setembro e o Espectro, marca não só a história da imprensa portuguesa como também, de alguma forma, a imprensa mundial. Nunca teve medo de escrever e o seu estilo claro, apaixonado, vigoroso e um tanto messiânico, marcou a sua época, tornando-o numa referência obrigatória do jornalismo. Pelos valores de liberdade, igualdade e justiça, pelo afrontamento do poder ditatorial, pela audacidade e persistência, Rodrigues Sampaio ficou assinalado na história do jornalismo com páginas de ouro.
De alguma forma esquecido, injustamente sublinhe-se, Sampaio fez da sua vida um combate permanente pela liberdade e soube manejar como poucos as "armas" do jornalismo. Foram mais de 50 anos de trabalho ligado à imprensa, com alguns intervalos devotados à acção polÃtica concreta, no Parlamento e no Governo.
Chamam-lhe o primeiro jornalista português. Mesmo que a atribuição seja um pouco exagerada, ela expressa a importância da sua figura e da forma como exerceu militantemente o jornalismo.
Verdade indiscutÃvel será esta: Rodrigues Sampaio foi o primeiro jornalista a ascender aos cargos mais elevados da nação: deputado, ministro, 1º ministro e presidente do parlamento. A sua relação com o jornal "Revolução de Setembro", lançado por José Estevão em 1840, foi de tal ordem que ele ficou conhecido na época como o "Sampaio da Revolução". Durante 32 anos manteve Rodrigues Sampaio
uma relação estreita com o jornal, nunca deixando a ir à sua redacção, mesmo quando esteve no parlamento, ou no governo. Mas mais do que uma voz dos setembristas e do partido regenerador, o Revolução de Setembro foi também espaço de apresentação pública de textos dos mais fortes romancistas da época e de sempre: Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco.
Eça escreve poemas da sua personagem Carlos Fradique Mendes e Camilo, com o pseudónimo Felizardo, também faz da revolução um jornal menos polÃtico.
Curiosamente, Sampaio escreveu uma obra imensa de intervenção pela liberdade e pelos ideais do romantismo e não deixou qualquer livro inteiramente seu. São as páginas dos jornais - na legalidade e na clandestinidade - que falam de si e da sua grandeza. Mas não só, as intervenções parlamentares e as leis que patrocinou quer para a instrução primária, quer para a administração do poder local dizem muito da sua personalidade e dos seus valores. Mesmo que tenha sido combatido por alguns pré-republicanos, foi uma lanterna dos ideais republicanos, quando a república ainda estava longe.
Fez estremecer como poucos o poder ditatorial.
Independentemente das opções polÃtico-partidárias que tenha tomado, em meio século de tantas conturbações, a forma soberana como exerceu o jornalismo torna-o uma figura Ãmpar. O seu combate pela liberdade, desde os 22 anos, e sobretudo a edição de jornais clandestinos contra a opressão ditatorial e o vigor da sua pena contra as injustiças são uma prova indelével da sua coragem e determinação.
O elogio que lhe fez Camilo Castelo Branco é merecido e dá uma bela legenda: "soldado intrépido e amigo incorruptÃvel da liberdade". Tanto em vida como depois, os louvores ecoaram sempre mais alto que os ataques.
Sampaio nasceu pobre e pobre morreu. Não fez fortuna nem com o jornalismo, nem com a polÃtica.
Deixou, porém, uma herança riquÃssima: transformou-se em emblema singular do jornalismo doutrinário.
Gervásio Lobato definiu Rodrigues Sampaio assim: o panfletário audaz, o lutador infatigável, o jornalista brilhante e colossal.