Pinheiro
, Rafael Bordallo
(1846 -1905)
Mesmo que durante algum tempo se tenha dedicado à cerâmica, é no jornalismo que a marca genial de Rafael Bordallo Pinheiro se manifesta mais sólida e prolongadamente.
A sua vida é um hino ao jornalismo de humor.
Durante 35 anos (1870-1905), ele soube como ninguém fazer a crónica do seu tempo, elevando a caricatura aos patamares mais altos do jornalismo de autor.
As páginas dos seus jornais deixaram para a história um documento vivo e inesgotável, sem o qual muitos factos e enredos ficariam por aprofundar. Com o seu lápis, Bordallo aguçou a análise da realidade polÃtica e foi a rir e a fazer rir que lançou bombas de sarcasmo sobre os figurantes do seu tempo.
O seu talento fez jorrar rios de ironia e sátira sobre as intrigas e a comédia da vida polÃtica dos últimos 30 anos do séc.XIX até à s vésperas da República. De forma magistral, ele soube registar o seu tempo, na essência das coisas que estão para além do tempo. Em Portugal e no Brasil (Rio de Janeiro), onde trabalhou durante 5 anos.
Por isso mesmo Bordallo ainda é actual. Analise-se o seu olhar trocista sobre as eleições, ou sobre a polÃtica em geral, e compare-se com o tempo que passa…
Foi a capacidade analÃtica do seu lápis que o fez perdurar até hoje. Pelo olhar agudo e ajustado, sarcástico e severo, mas também bondoso, com que escalpelizou comportamentos e costumes de um paÃs que se identifica ainda hoje muito com um Zé-Povinho criado 1875. Pela sua intervenção apaixonada, persistente e directa sobre os alvos mais altos do poder da época, Bordalo Pinheiro enobreceu como poucos o jornalismo. Colocou-se do lado dos fracos. E foi, por isso, um guerrilheiro do humor.