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UM ESPÓLIO INVEJÁVEL
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Este espólio, recuperado pelo Museu, encontra-se dividido em quatro
grandes sectores: a FUNDIÇÃO, a COMPOSIÇÃO, a IMPRESSÃO
e a ENCADERNAÇÃO e ainda algumas colecções pertencentes a um outro
sector - a GRAVURA.
No sector da FUNDIÇÃO,
destacam-se as colecções de punções, matrizes e moldes para a execução
manual dos tipos. Encontra-se em exposição uma máquina francesa da marca
Foucher do início do século XX para fundição automática de caracteres,
equipamento que substituiu a tradicional fundição manual e permitiu uma
produção mais barata e abundante de tipos móveis.
Título:
Máquina de fundição de
tipos Foucher
Descrição:
Máquina a gás composta por uma
fundidora e por um sistema de arrefecimento.
Curiosidades:
Os filhos de
Auguste Foucher continuaram a trabalhar com a máquina construída pelo
pai, mas aperfeiçoaram-lhe as capacidades e ultrapassaram assim algumas
de marca mais antiga (Kusterman, Jonson, Atkinson e Wicks), razão pela
qual muitas casas da especialidade a mantiveram durante muito tempo em
uso. Auguste Foucher criou, no séc. XIX, a primeira máquina para
fundir tipos de impressão.
Técnica:
A liga de metal quente é
injectada na matriz, que é, depois, arrefecida através de mangueiras de
água, provocando a rápida solidificação dos tipos.
Função:
Fundir tipos de impressão
Materiais:
Ferro
Data:
1906 |
A COMPOSIÇÃO
encontra-se dividida em duas partes: a composição manual e a composição
mecânica.
A composição manual, que
constituiu a base da tipografia e das artes gráficas, tem em exposição
diversas colecções de tipos em chumbo e madeira. Surge, ainda, uma rara e
diversificada colecção de vinhetas tipográficas, utilizadas na decoração e
arranjo gráfico das páginas bem como instrumentos como componedores, galés,
galeões, ramas e material branco indispensáveis ao trabalho da composição.
Título:
Armário em madeira para
composição com gavetas de tipos
Descrição:
Armários com gavetas de tipos,
ordenadas de uma forma descendente
Curiosidades:
Os tipos eram
adquiridos pelas tipografias ao quilo, sendo escolhidas as suas
tipologias e variedades através da consulta de um catálogo. A
caixa tipográfica colocada na parte superior dos armários, de onde o
tipógrafo retirava os tipos na sequência dos textos a imprimir,
está dividida em duas grandes áreas:
- a parte superior, mais
pequena, onde se encontram as letras maiúsculas, também designadas de
caixa alta;
-
a parte inferior,
maior, onde se encontram as letras minúsculas, em maior quantidade, já
que são utilizadas mais frequentemente, também conhecidas por caixa
baixa. Alguns dos caixotins - pequenas caixas - recebem maior
quantidade, pois referem-se às letras mais utilizadas, como as vogais
e algumas consoantes (m, n, s,por exemplo).
Técnica:
O tipógrafo retirava os tipos na sequência dos texto a imprimir e
colocava-os num componedor, palavra a palavra, frase a frase, ordenados
da direita para a esquerda, com as letras de cabeça para baixo.
Função:
Armazenamento dos tipos móveis.
Materiais:
Madeira
S/ data |
A composição mecânica,
surgida nas primeiras décadas do séc. XIX, está representada pela
apresentação dos sistemas mecânicos mais divulgados em Portugal: a "Linotype",
como duas máquinas, a "Monotype" e a "Typograph". Em representação da
composição realizada pelos grandes jornais - a estereotipia - existem duas
máquinas de escarear as páginas em chumbo e clishés originais.
Título:
Máquina de composição
mecânica Linotype
Descrição:
Máquina de composição mecânica,
equipada com uma fundidora, um teclado e 4 caixas de matrizes.
Curiosidades:
O nome da
máquina, Linotype (pronuncia-se Line-O-Type), advém do facto de
produzir, precisamente, uma linha de tipos em metal, de uma só vez –
line of metal type, daqui “line” o “type”.
A destacar:
Com esta mecanização, a
produtividade do processo de composição aumentou exponencialmente já que
um operador de Linotype podia compor o equivalente à produção de 7 ou 8
compositores manuais.
Técnica:
O linotipista introduz o texto no
teclado, fazendo cair as matrizes no chamado “assembler”, onde ficam
alinhadas, pela ordem em que foram caindo. O espaço é dado através da
colocação de “material branco” (pequenas placas de chumbo sem gravações)
entre as matrizes. Uma vez introduzida a frase pretendida, o operário
carrega numa alavanca que eleva a linha até à secção de fundição. O
resto do processo é automático, pelo que enquanto a linha está a ser
fundida, o linotipista pode continuar a introduzir o texto.
A inovação mais
significativa da Linotype reside na automatização da distribuição, isto
é, da devolução das matrizes à caixa onde estão todas agrupadas, através
do distribuidor.
Função:
Funde automaticamente, num só bloco de chumbo, uma linha de tipos.
Data:
1964 |
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Título:
Máquina manual de escarear
Fundição do Bolhão
Descrição:
Máquina manual de escarear
A destacar:
Máquina construída no Porto por
uma das fundições mais antigas da cidade, Fundição do Bolhão.
Função:
Limpeza manual das imperfeições existentes nas páginas de chumbo
destinadas à impressão, resultantes da sua fundição.
Materiais:
Ferro
Data:
1910 (aprox.) |
No sector da IMPRESSÃO,
há peças emblemáticas: um prelo de madeira do séc. XVIII, recuperado e
restaurado pelo museu, ocupa um lugar de destaque, quer pela sua raridade
quer pela sua imponência.
Título:
Prelo em madeira
Descrição:
Máquina de impressão manual.
Este tipo de prelo
em madeira é um melhoramento do prelo do século XV, tendo a sua
tipologia perdurado do século XVI ao século XVIII. Tem como principal
alteração a aplicação de um sistema de movimentação do cofre através de
corda e o aparecimento da mesa para bater a tinta, tendo o formato da
platina sido reduzido para metade, de forma a ser obtida maior pressão.
Curiosidades:
O prelo foi
reconstruído partir de peças que estavam dispersas pela Biblioteca Geral
da Universidade de Coimbra e pelo Museu Nacional da Ciência e da
Técnica. Admite-se que seja um dos primeiros prelos que
funcionaram na Real Imprensa da Universidade, fundada em Coimbra em
1772, pelo Marquês de Pombal.
Este exemplar do
século XVIII, reconstruído pelos técnicos do Museu, é um dos únicos
exemplares existentes em Portugal e dos poucos em todo o mundo.
Técnica:
O prelo era accionado por dois
operários, os impressores, que repartiam alternadamente o trabalho de
acordo com várias etapas sequenciais:
- colocar a forma
(composição) no cofre (carro);
- entinta-la com a
ajuda de balas (instrumentos de que se serviam os antigos impressores -
bate-balas ou batedores - para dar tinta às formas antes da invenção dos
rolos) com tinta preparada por eles próprios;
- colocar o papel,
humedecido algumas horas antes para permitir uma melhor impressão, sobre
a forma;
- baixar a
frisqueta sobre o tímpano e fazer deslizar o cofre para baixo da
platina;
- accionar o braço
de pressão do fuso para que a platina pressione o papel sobre o tímpano;
- devolver o braço
de pressão, o cofre, o tímpano e a frasqueta à posição inicial;
- retirar a
impressão realizada, pendurando-a de forma a secar rapidamente.
Função:
Impressão
Materiais:
Madeira
Data:
Séc. XVIII |
Dos prelos em ferro, típicos
do século XIX, existem dois "Albion Press" ingleses e um prelo tipo Stanhope
da marca francesa "Alauzet", todos em funcionamento. O visitante tem aqui a
oportunidade de imprimir manualmente textos e gravuras alusivas às
actividades do museu. As máquinas de impressão tipo "Minerva" fazem também
parte deste sector. Os diversos exemplares franceses e alemães expostos,
utilizam quer a força manual quer o pedal e podem ser também experimentadas
pelos visitantes.
Título:
Prelo manual
Albion Press
Descrição:
Máquina de impressão manual.
A construção de
prelos em ferro que se verificou desde o final do séc. XVIII e início do
séc. XIX, quer no continente americano (1797), quer na Europa (1795),
permitiu a substituição, com evidentes vantagens, das seculares prensas
em madeira. Esta alteração traduziu-se numa maior eficácia do sistema de
tintagem, tarefa problemática nas anteriores prensas e consequentemente
numa melhoria da rapidez de impressão.
Curiosidades:
O primeiro
prelo de impressão Albion Press foi construído em 1825 por J.M. Powell
na Inglaterra, e a partir daí difundido em todo o mundo graças, na
altura, ao enorme poderio industrial e político inglês. Este exemplar
foi construído pela firma Hopkinson & Cope. Este prelo manual,
raro pelo seu tamanho, foi utilizado ao longo dos primeiros anos do
Jornal “O Comércio do Porto”.
Função:
Impressão.
Materiais:
Ferro
Data:
1857 |
São apresentadas ainda
máquinas cilíndricas e rotativas do início do século XX, peças únicas como
uma rotativa "Marinoni" e uma máquina cilíndrica "Johannisberg".
Título:
Máquina planocilindríca
Johannisberg Klein
Descrição:
Impressora tipográfica contendo
um cofre metálico plano e um compressor cilíndrico. Pode funcionar
manualmente ou a motor.
Curiosidades:
A empresa
Johannisberg Klein
foi fundada por Johann Klein e Johann Forst na povoação de Johannisberg,
Alemanha, sendo que a primeira máquina foi realizada em 1846.
Técnica:
A pressão realiza-se entre o
cofre plano que contém a composição e o cilindro compressor, regulada e
accionada por meio da manipulação do dispositivo de controle, para
impressão de textos, ilustrações, desenhos e trabalhos similares.
Função:
Impressão.
Materiais:
Ferro
Data:
1907 |
Da litografia, surgida em
finais do século XVIII, está patente um prelo litográfico em madeira do
século XIX, com a sua típica roda em estrela, acompanhado de algumas pedras
litográficas.
Na ENCADERNAÇÃO ou
acabamentos, destacam-se peças manuais francesas muito raras utilizadas na
realização das capas cartonadas dos livros. Um armário com ferros em bronze
e instrumentos para dourar estas capas é também apresentado.
Título:
Armário/ferramental de
peças para dourar
Descrição:
Armário de parede, em madeira,
contendo ferros e rodas em bronze, com diversos filetes (ornatos), coxim
de dourador e almofada de pele.
Curiosidades:
Muitos dos
ferros para dourar eram desenhados e concebidos pelos próprios
douradores, ganhando a encadernação um cunho muito pessoal e único.
A destacar:
A arte de dourar é inteiramente
distinta da arte de encadernar; constituem ofícios diversos – o dourador
e o encadernador – mas estão tão intimamente ligadas que se pode dizer
que uma completa a outra. Trata-se de uma arte milenar ainda hoje
utilizada, principalmente na valorização de livros e colecções
particulares.
Técnica:
Depois de aquecidos ao fogo, os
ferros eram passados sobre uma folha dourada, que, por aquecimento,
transmitia para o couro o motivo dourado.
Para execução de
letras ou números existiriam ferros com estes motivos.
Função:
Fixar desenhos (ornatos) nas
capas dos livros.
S/ data |
Uma guilhotina manual alemã "Mansfeld",
com um funcionamento completamente manual, surge incluída neste sector.
Utilizada no corte do papel e cartão indispensável aos trabalhos
tipográficos, ela simboliza o árduo trabalho realizado pelos encadernadores.
Título:
Guilhotina manual de
volante Mansfeld
Descrição:
Máquina composta por uma faca
horizontal que desliza entre dois bastidores de ferro accionada
manualmente.
Curiosidades:
As guilhotinas eram equipamentos obrigatórios em todas as tipografias.
É, sem dúvida, uma
tarefa onde muitos dos tipógrafos ou impressores iniciaram a sua
auto-formação nas tipografias; ambientando-se às técnicas, eles iam
aprendendo com a experiência dos mais velhos. Existem já muito poucos
exemplares em funcionamento, já que para o corte de papelão ou de resmas
de papel são necessários, pelo menos, dois trabalhadores. Muitas destas
guilhotinas sofreram adaptações eléctricas ou outras, o que não é o caso
deste exemplar, que se apresenta ainda no seu original funcionamento
manual.
Técnica:
Colocando as folhas sob a faca
horizontal da guilhotina e apertando-as verticalmente com uma espécie de
balancé, o operário teria que mover com muita força o enorme volante de
ferro de forma que a faca da guilhotina subisse e caísse, com toda a
força, sobre as folhas. Para um novo corte ter-se-ia que levantar o
balancé, colocar as folhas no local do corte e repetir o processo.
Função:
Corte de resmas de papel, de
papelão e cartão para a feitura de livros, jornais, cadernos, etc.
Materiais:
Ferro
Data:
1900 (aprox.) |
Uma enorme prensa de
encadernação, de quatro colunas, termina esta viagem do visitante pelo mundo
da imprensa. |
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