Num país onde a "cultura" que está fora
das televisões tem pouca relevância pública, precisamos de ousar mudar a
paisagem cultural, a partir de novos projectos e por dentro das próprias
instituições culturais. Para tal, não basta que as élites se inquietem
porque a Escola isto e o Governo aquilo. Todos teremos de mudar, mesmo as
élites!, para que a Cultura possa ser mais mobilizadora do desenvolvimento
sustentado que ambicionamos para o país.
É neste quadro que o MUSEU NACIONAL DA
IMPRENSA procura ser um museu diferente. Não pela diferença em si mesma, mas
pelos resultados que persegue. Desde a inauguração, ocorrida em Abril de
1997, que perspectivamos a nossa actividade de forma a romper com o
paradigma tradicional dos museus. O MNI abriu como o primeiro "museu vivo"
do país, funciona 365 dias no ano e orienta a sua estratégia para a
descentralização cultural e a internacionalização, numa linha de conquista
de novos públicos.
Assim, seja nas instalações da sede do
museu, seja nos centros comerciais ou em espaços culturais do Algarve ao
Minho e às Regiões Autónomas, praticam a deselitização das acções culturais,
num processo que é lento mas seguro para a democratização da Cultura.
É claro que lidamos com um objecto muito
transversal – a imprensa – mas a valorização do cartoon, como linguagem
universal e acessível a todos, tem constituído um dos pilares da estratégia
seguida. Imprimir textos de Camões, Almeida Garrett, Eça de Queirós, Sofia
de Mello Breyner, ou Eugénio de Andrade, ou mesmo páginas de jornais, a par
da produção manual de papel e do desfrute inteligente do humor, no museu ou
noutros espaços culturais e "comerciais", tem sido uma prática que se
intensifica à medida que a descentralização aumenta.
No campo da internacionalização, o
PortoCartoon surge como uma pequenina aventura que cresce de ano para ano,
inscrevendo o país e a cidade do Porto nos roteiros do cartoon mundial.
Se o PortoCartoon é já um pequeno emblema,
outros iniciativas têm sido promovidas na mesma linha, mas procurando levar
as actividades para o estrangeiro. Espanha, França, Brasil e Argentina foram
os países já "tocados" pelo Museu.
Ainda neste domínio internacional, está em
marcha outra iniciativa: a criação do Museu Sem Fronteiras da Imprensa da
Lusofonia. Trata-se de um projecto que visa preservar e valorizar os
patrimónios tipográficos dos países de língua oficial portuguesa. Reforçar
os laços culturais, a partir do património da Imprensa, é o objectivo
central deste projecto.
O Museu Virtual de Imprensa (aberto aos
cibernautas deste 1997) e as galerias virtuais que têm sido criadas
continuam a ser instrumentos indispensáveis da internacionalização do
projecto geral do Museu.
Não tem sido nada fácil levar por diante
este projecto. Reacções de vários tons e todas elas fracas nos horizontes
têm criado obstáculos. Uma anormalidade infelizmente normal.
De qualquer modo, persistimos em preservar
um dos maiores espólios mundiais de artes gráficas, mantemos o museu aberto
todo o ano, praticamos a descentralização cultural, valorizamos a caricatura
como género jornalístico e acreditamos que será possível fazer de Portugal o
país que melhor pode contar a história da imprensa de Gutenberg.
Esta é uma utopia realizável. Os
diferentes Núcleos que o Museu está a criar no Continente e nas Ilhas
poderão vir a formar uma rede de pequenos museus espalhados pelo país. O
desenvolvimento integrado dessa rede permitirá que se constitua um grande
Museu Polinucleado que honre Gutenberg e faça de Portugal um país especial,
quer na forma como preservou o seu património tipográfico, quer no modo como
soube criar um projecto cultural e turístico de distintiva singularidade
mundial.
As tecnologias multimédia e o ciberespaço
reforçarão esta singularidade.
Por todos estes aspectos particulares,
fará todo o sentido, aqui mais do que na Alemanha, proclamar-se, no futuro,
"Portugal, o País de Gutenberg". A existência de muitas relíquias
tipográficas em Portugal e a tipologia do projecto do MNI, com núcleos
espalhados por diversas cidades, constituem factores de elevada
singularidade internacional
Acreditamos que é com esta perspectiva que
se materializa uma nova filosofia museal que se tem acentuado desde finais do Séc.
XX e que defende que os Museus devem deixar de ser espaços de élites para se
transformarem nos centros das cidades modernas. Como lugares de mediação
cultural e educativa – e não apenas de preservação e exibição patrimonial –,
os museus estarão, assim, a democratizar os bens culturais. Ou seja,
tornam-se espaços públicos activadores do Prazer da Cultura, nosso lema
desde a primeira hora.
Bem-hajam todos aqueles que têm
contribuido para a afirmação deste projecto.