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O Poeta

Em 1971, no mesmo ano em que se torna jornalista profissional, Manuel António Pina publica quatro poemas. São editados em O Armário, publicação feita conjuntamente com João Botelho e Manuel Resende.
O Armário publica-se no Porto, em junho de 1971, anunciando-se como o nº 1 de da coleção 15.21, de uma 'Edição dos Autores': Manuel Resende, João Botelho e MAP (sic). Todo ele é uma verdadeira provocação.
O nome da coleção - 15.21 (relativo às medidas do papel, 15X21 cm) - deriva de uma editora francesa de livros de bolso chamada 10/18.
O título é homónimo do conto de Manuel Resende e João Botelho com que a brochura abre (pgs 9--23) e é ilustrado por dois desenhos de matriz surrealista assinados por joão. Foi escrito a duas mãos e tinha sido contemplado com o primeiro prémio do concurso de Conto e Poesia organizado pela Comissão de Festas da Queima das Fitas do Porto de 1971.
Antes deste conto que dá título à publicação, há "Um texto" satírico muito curioso: "1. Para explicar" (p.5) , "2. Para continuar a explicar" (p. 6) e "3.Para acabar de explicar".
Nestas explicações, os autores, realistas, anunciam: "Provavelmente só sairá este número: tudo depende da receptividade dos leitores e de quanto nos estivermos para chatear a escrever o que nos apetecer e se nos apetecer continuar e pronto".
Logo a seguir a estas explicações, é apresentada uma Bibliografia (pgs 7-8) em que sartirizam vários autores, de Dante a Cesarynni (sic) com nove títulos, todos eles apresentados como criações (mordazes) dos autores, cujos nomes (alguns) são humoristicamente transformados. Por exemplo: Agostinha Bessa Ruís é autora de "Os jogos florais através das épocas", obr completas, VII volume, Ediçoes do Progresso; António Rebordosa-Navarro com o livro "Como ganhar o Prémio Alves Redor ou De Como vir a Ser Membro de Todos os júris dos Jogos Florais da Província, Inova, Porto, 1971. Nem todos os autores surgem com o nome trocado, como acontece com o crítico João Gaspar Simões, ou Jorge de Sena. Todavia, o gozo está nos títulos dos livros que lhes são atribuidos: "Um Dito de Espirito de Fernando Pessoas às Mesas dos Irmãos-Unidos". col. Como Eles Eram na Intimidade, ed. Presença 1948, como sendo de JGS; e "Um Verso de Camões", Portugália Editora, 1971, 500 págs., como sendo de J S. A Mário Cesarynni de Vasconcelos é atribuido o livro "O Surrealismo da Senilidade ou a Senilidade do Surrelaismo, Ed. Les Temps Réels-Genebra 1970.

Este texto é assinado pelo trio, mas MAP passa a M.A.M. (de Manuel António Mota, assinatura que Manuel António Pina usará nos primeiros textos do Jornal de Notícias).

Os quatro poemas de M.A.P fecham a publicação, subordinados a um título geral: Algumas Vezes Não e com uma nota de rodapé em castelhano: "quisiera escribir un poema perfecto si no/ fuera indecente hacerlo en estos tiempos"
Estes dois versos correspondem quase integralmente ao final do poema Aviso, de Gabriel Celaya, do seu livro Tranquilamente hablando", de 1957. Celaya, natural do País Basco - nasceu em 1911 em Hernani e morreu em Madrid em 1991 - e publicou o seu primeiro livro em 1935 (Marea de Silencio). É deste poeta basco o conhecido poema-manifesto "a poesia é uma arma carregada de futuro".

Os quatro poemas de MAP publicados em O Armário são: Já não é possível, Os tempos não, Palavras não e Calo-me.

O Armário é uma publicação produzida em sistema offset, com 34 páginas e capa de cartolina verde, com o tamanho A5, dobrado e impresso a verde na horizontal.
A impressão foi feita na Associação de Estudantes da Faculdade de Engenharia do Porto, onde habitualmente eram fabricadas as sebentas. Saiu apenas o nº 1 que foi vendido por cafés e livrarias. Sem grandes proventos, como era de esperar. Aliás, os exemplares foram deixados nos locais e os autores nunca mais lá voltaram para saber das vendas. Os que se venderam, se se venderam, foram para proveito dos 'postos de venda'.

Prémios de Poesia

É também a poesia que lhe dá o primeiro dos dez prémios que recebeu. Em 1978. Depois, recebeu mais três prémios específicos: em 2002, 2004, 2005.

MAP é o artesão das palavras que ajudam a pensar as coisas, a vida, e o próprio pensamento sobre as coisas e a vida que levamos. Poética e ludicamente, filosofa sobre a (des)construção das palavras. Brinca com elas, numa surpreendente produção de sentidos que constitui uma das caraterísticas mais singulares da sua obra.

Pode dizer-se que MAP pensava em poesia, construindo a cidadania numa constante problematização dos processos da linguagem. A consagração máxima obtida com o Prémio Camões, em 2011, expressa esta dimensão, convergente no escritor e no jornalista.

Pela sua obra poética recebeu três prémios específicos, em vida. Mas, a poesia é para MAP muito mais do que prémios. É a casa, ou seja “um sítio onde pousar a cabeça”.

Versos premiados em 1959

MAP ganhou o 1º Prémio dos primeiros Jogos Florais de Canelas. Corria o ano de 1959. Houve centenas de concorrentes de todo o país e a quadra de MAP sobre o azul da ria de Aveiro foi considerada a melhor, entre cerca de 800.

O Padre Reinaldo Matos, organizador da iniciativa, publicou depois um quarto das quadras concorrentes, num livrinho intitulado Cancioneiro da Ria de Aveiro.

O vencedor ganhou uma salva de prata, tal como o 2º e o 3º prémio. Numa entrevista dada poucos meses antes de falecer, o pai de Manuel António Pina, falou-nos deste premio, como uma das lembranças mais presentes que tinha do filho ainda jovem estudante do liceu de Aveiro.

Poema Fado
Um dos poemas de MAP - Saudade da Prosa - foi musicado por Paulo Jorge Rodrigues e é cantado por Helena Sarmento.

  1. Saudade Da Prosa [+]