A Escrita, como um sistema de signos que serve para exprimir graficamente a linguagem, constitui uma das grandes
conquistas da Humanidade. Desde os primeiros signos conhecidos até chegar aos sistemas alfabéticos actualmente em uso, a
escrita passou por inúmeras mudanças e transformações. Nesta evolução distinguem-se claramente duas fases essenciais: a
escrita ideográfica e a escrita fonética. No primeiro estádio, a escrita compunha-se por signos pictóricos que representavam
objectos ou ideias, com um simples valor ideográfico. Por isso, eram necessários tantos signos quantos os objectos e ideias a
exprimir. Numa segunda fase, os signos começaram a representar não já objectos ou ideias, mas os sons com que tais
objectos ou ideias eram nomeados no respectivo idioma. Os signos além do valor ideográfico passaram a ter também um
valor fonético, conforme o texto em que surgiam. Os mais antigos vestígios de escrita provêm de Sumer (baixa
Mesopotâmia), cuja antiguidade atinge 5 500 anos aproximadamente. Tanto a escrita suméria como a escrita egípcia
(hieroglífica) são ao mesmo tempo escritas ideográficas e fonéticas, que repousam no uso muito elevado de signos. A escrita
suméria, por exemplo, dispunha quase de 20 000 ideogramas simples e compostos.
Mas a grande conquista da escrita foi a criação do Alfabeto. A palavra alfabeto é de origem latina (alfabetum), sendo
constituída pelas duas primeiras letras do alfabeto grego, alfha e beta. O alfabeto fenício, que parece baseado na escrita do
proto-Sinai (anterior ao séc. XV a.C.), foi o mais perfeito e mais difundido alfabeto antigo, com uma antiguidade de 3 000
anos. Constituído por cerca e vinte e dois signos, que permitiam escrever qualquer palavra, a sua simplicidade foi a chave da
sua rápida expansão. Foi adoptado, a partir do séc. X a.C., pelos Arameus, que o transmitiram aos Nabateus, Sírios, Persas
e Hebreus. O alfabeto árabe parece derivar também dele, embora seja difícil determinar como e quando se deu essa
transformação.
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Para a nossa civilização, o facto de maior transcendência foi a adopção, cerca do séc. VIII a.C., do alfabeto fenício por
parte dos Gregos, que o aperfeiçoaram, introduzindo-lhe a notação dos sons vocálicos. As primeiras inscrições alinhavam-se
da direita para a esquerda, mas mudou-se depois de orientação, alinhando-se da esquerda para a direita, o que deve ter tido
em conta a procura de semelhança com os signos fenícios. O alfabeto grego clássico do séc. VI a.C., compõe-se de vinte e
quatro letras, vogais e consoantes.
Deste alfabeto surgiram escritas de populações não helénicas, como o etrusco e o lícico. Na Idade Média, formar-se-iam
ainda a partir do grego o alfabeto gótico e os alfabetos eslavos. A partir do alfabeto etrusco e outras escritas itálicas
formou-se o alfabeto latino, cujos primeiros documentos datam de final do séc. VII a.C. e princípios de VI a.C. Por volta do
séc. I a.C., o alfabeto latino encontra-se perfeitamnete constituído, constando de vinte e três letras. Com o Império Romano
e o domínio do mundo ocidental, o alfabeto latino haveria de se impôr em todas as colónias.
O que aqui se pretende dar a conhecer é apenas uma pequena parte da longa evolução de várias escritas, com a
apresentação de alguns textos, acompanhados de uma curta explicação quanto ao seu aparecimento e desenvolvimento.
Alguns destes alfabetos foram, ao longo dos séculos, fundidos em chumbo por fundidores famosos como Claude Garamond
(séc. XVI), que pretendiam oferecer à Europa edições gregas e latinas. Os punções utilizados na realização destes alfabetos
são hoje considerados "monumentos históricos", pois constituem um testemunho marcante da evolução da escrita e da
civilização.
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