Não gosto de ter animais em casa. Mas, se gostasse de os ter, teria certamente um gato.
Um gato é a independência (indiferença?) em estado puro, a dignidade que lhe vem dos tempos em que era tigre – e essas coisas não se perdem nunca.
Um gato não se doma, não faz figuras tristes, não dá a patinha.
Um gato é bicho solitário, desliza entre o silêncio dos móveis e o pó dos livros e se calhar é por isso que tantos escritores os adotam. Ou eles adotam os escritores – nunca cheguei a perceber.
Lembro-me de quando morreu a gata do Carlos de Oliveira. À mesa do Monte Carlo, durante vários dias ele murmurava: