O amigo dos gatos
Fotografia: Global Imagens
Escritores e gatos
Os escritores, tal como os gatos, são criaturas solitárias, ciosas do seu espaço e da sua liberdade, que gostam de silêncio, de concentração e de companhia quanto baste. Os gatos não exigem demais de quem vive com eles nem reclamam atenção a toda a hora, e os escritores aceitam de bom grado essa situação, que os deixa à vontade e não lhes cria sentimentos de culpa quando estão ausentes.
Os gatos parecem pacíficos e domésticos, mas nunca cortaram realmente o elo com o mundo selvagem. Basta ver um gato assanhado para perceber de onde vêm as suas unhas em garra, as orelhas pontiagudas, os dentes afiados, a boca aberta bufando. Basta vê-los caçar para os descobrir como felinos, da estirpe do gato bravo, do tigre ou da pantera.
Os escritores também têm esse lado nunca domesticado nem domesticável. Por muito que se tente convertê-los às convenções, ao que se considera correcto ( politicamente ou não) ,eles encontram saídas e saltam para fora.Também eles são da estirpe dos felinos.
Tal como os gatos, também eles são sensuais, com todos os sentidos despertos para o mundo à sua volta. Dotados de olhos multifacetados, que vêem longe e perto, na luz e na sombra. Ou no escuro.
Se for esse o caso, também eles sabem ser ternos, partilhar com o outro a sua pele macia, o calor do seu corpo.
E, tal como os gatos, também os escritores têm sete vidas. Quando enfrentam perigos e são atacados, empurrados para quedas de grande altura, usam todos os seus recursos de defesa (que são muitos) e sabem cair de pé.
(A quem se interessar por este tema e quiser saber mais, sugiro que leia o capítulo II do meu romance A Cidade de Ulisses).
Nota: Teolinda Gersão não obedece ao novo Acordo Ortográfico e escreve em português europeu.
|