Curadoria: Adriano Rangel / Edição: Caleidoscópio
Labor e Método, Oitenta e Oito Cartazes (1996-2020) é uma exposição e uma publicação, ambas divididas em onze núcleos, contendo um conjunto de cartazes, acompanhados por centenas de desenhos de processo, esquissos de descoberta projectual, tipos de letra, alfabetos tipográficos, desenvolvidos e aplicados nas oitenta e oito peças de design gráfico apresentadas. Os projectos transitam sem hierarquias em onze campos de trabalho temático, com diferentes proximidades e laços institucionais extensivos. Esta reunião de projectos foi possível graças a um trabalho sistemático de recolha e análise, iniciado já em 2011, no arquivo do atelier.
Texto Adriano Rangel / Curadoria
Já em 2016 escrevia eu que Jorge dos Reis usava a liberdade criativa e a mestria de preencher os silêncios e os vazios das palavras-imagens. Este repertório, de 88 cartazes em exposição, são disso uma demonstração, construindo uma geografia visual a partir de uma gramática pessoal de design gráfico.
Como uma teia que se vai multiplicando, a partir de elos de ligação de formas simples que representam ideias complexas, para uma leitura confortável, mas inquietante. São história biográfica do seu repertório criativo entendido como uma constelação de formas que relaciona o subjectivo e o universal.
Mais parece uma grande caixa de ressonância onde ecoa muito pensamento de liberdade. Estas 88 obras, são uma antologia, uma nostalgia de liberdades da comunicação visual que, no sentido primevo, se reinventa. |
Em meados de 1440, foi inventado na Alemanha um processo de impressão à base de tipos móveis, intermutáveis e reutilizáveis, que vieram a revolucionar o meio tradicional de transmissão de conhecimentos e ideias através da escrita, traçando uma linha claramente divisória, que virá a ser definitiva, entre a cultura manuscrita e a cultura impressa.
Esse formidável século fez coincidir na Europa dois processos fundamentais para a Cultura Ocidental — o Renascimento e a invenção da Tipografia. Hodiernamente há que entender estes dois acontecimentos como constituintes de um verdadeiro núcleo fundador do desenho gráfico moderno materializado em diferentes suportes gráficos que chegaram até nós.
Texto Luiz Humberto Marcos / Museu Nacional da imprensa
O design gráfico tem ganho, nas últimas décadas, um grande impulso e conquistou artistas de diversos ramos. Mais ou menos utilitário, abriu campos novos e ganhou adeptos bem fora das dimensões industrial e comercial.
No caso do design gráfico, a arte da imprensa – de livros, jornais e muitos outros impressos – não só não o dispensa, como tem nele a sua preponderante fonte de afirmação.
Neste contexto, a mostra de 88 cartazes tem um significado muito especial para o Museu Nacional da Imprensa. Não pelo número 88 – já de si a remeter para múltiplos infinitos – mas pelo acento da sua marca tipográfica e pela oportunidade. De resto, consta do projeto inicial do museu a criação de uma galeria dedicada ao cartaz. Em projeto, à espera do seu tempo.
Jorge dos Reis mostra bem, nesta expressiva exposição, que a sua mestria não é alheia às experiências de aprendiz de tipógrafo, quando ainda estudava nas Belas Artes de lisboa…
Aí sentiu a musicalidade dos tipos no caixotim e no componedor, o acerto das linhas, o ranger dos cavaletes, a importância do linómetro, etc. Todo esse mundo parece ter sido absorvido pelo jovem beirão, para desembocar na evidente matriz tipográfica que está incrustada no seu labor cartazístico. A marca do seu estilo está aí. Transcorre o seu percurso, desde os idos anos 90, quando fez os cartazes para o Museu Ferroviário (1997), até ao cartaz desta mesma exposição e à criação de novo espécimen tipográfico que leva o nome de Rodrigo Álvares, aquele que apelidamos de ‘gutenberg português’, desde a inauguração do MNI (1997). |