O Museu Nacional da Imprensa inaugurou no dia 22 de Janeiro uma exposição documental subordinada ao título “Santa Liberdade, 50 anos: O D. Quixote que abalou as ditaduras de Salazar e Franco”.
O objectivo visa mostrar o impacto (na imprensa) do assalto ao paquete Santa Maria, dirigido por Henrique Galvão e integrado no movimento de Humberto Delgado. A sessão de abertura conta com a presença de Camilo Mortágua, um dos rebeldes que acompanhou Galvão, e de Margarita Ledo, realizadora galega do documentário “Santa Liberdade”.
Dezenas de exemplares da imprensa nacional e internacional integram a exposição cuja abertura decorre precisamente no dia em que, há meio século, o capitão Henrique Galvão comandou o assalto ao Santa Maria, caso que viria a ser um dos mais duros golpes aplicados ao regime ditatorial que vigorava em Portugal desde 1926.
A exposição, comissariada por Luís Humberto Marcos, director do Museu, apresenta exemplares raros da repercussão da operação na imprensa mundial, designadamente nas grandes revistas mundiais Life e Paris Match e em alguns dos principais jornais do mundo.
Trata -se de uma mostra documental que evidencia toda a odisseia que impressionou a opinião pública mundial durante duas semanas, aproximadamente, a partir das múltiplas manchetes que o caso suscitou, até à entrega do navio a 3 de Fevereiro de 1961.
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O paquete de luxo Santa Maria, transportava cerca de mil pessoas depois de deixar Caracas, na Venezuela, e foi tomado por cerca de 25 rebeldes comandados por Henrique Galvão, exilado na Venezuela, após uma singular fuga do Hospital de Santa Maria, em 1959, onde se encontrava detido à guarda da PIDE, a polícia política do regime.
A imprensa da época relata que, depois de ter sido tomado por Galvão, o navio passou a designar-se de “Santa Liberdade”, ostentando tal denominação, em diferentes partes do convés. Além disso, o paquete conseguiu fintar a marinha e a aviação americanas, tendo navegado incógnito, durante milhas, em pleno oceano Atlântico, com rota orientada para África. O comando naval do navio era da responsabilidade de um ex-capitão da marinha espanhola, Jorge Sotomayor, exilado na Venezuela. A acção denominava-se de “Dulcineia” e fora desencadeada pela DIRL (Direcção Ibérica Revolucionária de Libertação), organização que integrava exilados portugueses e espanhóis, associada ao movimento de Humberto Delgado.
Em termos jornalísticos, o caso era muito singular e mobilizou meios nunca utilizados até aquela altura, como foi o uso de pára-quedas por jornalistas do Paris-Match.
A exposição ficará patente até 30 de Junho, na sala Rodrigo Álvares do Museu.
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